Estudantes visitaram comunidade quilombola e vivenciaram práticas tradicionais, saberes intergeracionais e reflexões sobre identidade e resistência.

Com o objetivo de promover uma educação antirracista e ampliar o letramento racial na escola, a Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Ceciliano Abel de Almeida, localizada em São Mateus, realizou uma visita técnica por meio do projeto “Aquilombar”. A atividade levou 45 estudantes e 15 educadores à comunidade quilombola Divino Espírito Santo, situada no município de São Mateus, para uma vivência formativa baseada no contato direto com a história, cultura e práticas sociais locais.

A comitiva escolar foi recebida na sede do quilombo pelas lideranças da comunidade, onde ocorreu uma roda de conversa com os anciãos locais. Entre os anfitriões, esteve o senhor Silvio Manoel dos Santos, de 83 anos, um dos fundadores da comunidade, que compartilhou sua experiência: “Mais que preservar a cultura quilombola é permanecer no lugar. Somente permanecendo no local pode-se preservar a cultura, tudo isso com independência, que seria o carro-mestre de nossa vida.”

A visita incluiu atividades em diferentes pontos da comunidade: a casa de farinha, onde os alunos acompanharam o processo de fabricação artesanal do beiju de mandioca; a casa do mestre Luiz dos Santos, que apresentou a tradição do Reis de Boi; e áreas agrícolas, onde Cedeni de Jesus falou sobre a preservação de cultivos tradicionais como a mandioca e a batata-doce. Além disso, os estudantes realizaram registros fotográficos, entrevistas e anotações para a produção de materiais pedagógicos e memória oral.

Para o professor e coordenador de Estratégias para Equidade Racial (PCER), Marcos Góes, a ação é estratégica. “Hoje, 80% dos nossos alunos são negros (pretos e pardos). Estratégias de equidade racial precisam ser desenvolvidas o ano todo nas escolas, e não somente em datas específicas. É necessário fomentar em toda a comunidade escolar uma consciência antirracista”, frisou.

Durante a visita, os alunos demonstraram grande envolvimento com os conteúdos vivenciados. Mateus Leite Amorim, da 2ª série do Ensino Médio, destacou: “Estou colhendo o máximo de informações sobre a cultura quilombola para desenvolver trabalhos escolares e ajudar a manter as tradições.” Já Lavínia Beatriz Silva Ribeiro, da 3ª série, afirmou: “Quero aprender mais com a comunidade para multiplicar na escola.”

O projeto “Aquilombar” também promoveu reflexões sobre associativismo e sucessão comunitária. O morador Domingos, de 69 anos, declarou: “Permaneço aqui e vou morrer aqui.”. Já Derlan Josefa apontou o desafio atual da comunidade: “Preparar novos líderes é nossa missão.”

A atividade resultou em impactos concretos: além de ampliar os conhecimentos dos estudantes sobre história e cultura afro-brasileira, reforçou o vínculo entre a escola e a comunidade. A produção de registros e materiais didáticos será utilizada em futuras ações pedagógicas e projetos de extensão.

Com o apoio institucional da coordenadora pedagógica Fabiana Maria da Silva, da diretora Larissa Vitorino de Oliveira Lima Mendes e da articulação da advogada Euci dos Santos Oss, representante da comunidade e do conselho comunitário local, o projeto seguirá ao longo do ano com novas atividades. A proposta integra diferentes áreas do conhecimento e reafirma o compromisso da escola com a construção de uma educação plural, antirracista e comprometida com a valorização da identidade negra e quilombola.

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